O primeiro encontro com a literatura negra
No nosso primeiro encontro para estudo da Literatura Negra conhecemos duas personagens muito interessantes: Lelê e Jussara
Lelê é personagem do conto "O cabelo de Lelê", de Valéria Belém, e Jussara faz parte do conto "Incidente na raiz", de Cuti, importante escritor negro.
Quer saber o que essas duas personagens têm em comum? É só ler a histórias! Ai vão elas!
Como o vídeo tem mais de 100 mega, não dá para postá-lo aqui, mas não tem problema, é só você clicar neste link.
Incidente na Raiz
Luís Silva (Cuti)
Jussara pensa que é
branca. Nunca lhe disseram o contrário. Nem o cartório. No cabelo crespo deu um
jeito. Produto químico e, fim! Ficou esvoaçante e submetido diariamente a uma
drástica auditoria no couro cabeludo, para evitar que as raízes pusessem as
manguinhas de fora. Qualquer indício, munia-se de pasta alisante, ferro e
outros que tais e....
O nariz, já não
havia nenhuma esperança de eficácia no método de prendê-lo com pregador de
roupa durante hora por dia. A prática materna não dera certo em sua infância.
Pelo contrário, tinha-lhe provocado algumas contusões de vasos sanguíneos.
Agora, já moça, suas narinas voavam mais livremente ao impulso da respiração.
Destestava tirar fotografias frontais.
Preferia de perfil,
uma forma paliativa, enquanto sonhava e fazia
economias para realizar
operação plástica. E os
lábios?
Na tentativa de
esconder-lhes a carnosidade, adquirira um cacoete – já apontado por amigos e
namorados (sempre brancos) – de mantê-los dentro da boca.
Sobre a pele,
naturalmente bronzeada, muito creme e pó de clarear.
Lá um dia, veio
alguém com a notícia de “alisamento permanente”. Era passar o produto nos
cabelos uma só vez e pronto, livrava-se de ficar de olho nas raízes. Um gringo
qualquer inventara tal fórmula. Cobrava caro, mas garantia o serviço. Segundo
diziam, a substância alisava a nascente dos pelos. Jussara deixou-se
influenciar. Fez um sacrifício na economias, protelou o sonho da plástica, e
submeteu-se. Com as queimaduras químicas na cabeça, foi internada às pressas,
depois de alguns espasmos e desmaios.
Na manhã seguinte,
ao abrir com dificuldade os olhos, no leito do hospital, um enfermeiro crioulo
perguntou-lhe:
– Tá melhor, nega?
Ela desmaiou de
novo.
E aí, gostou?
Não ficamos satisfeitos com o que aconteceu com Jussara e acho que você também não deve ter ficado.
Então que tal um outro final para a garota?
Foi o que fizemos. Criamos um outro desfecho para o conto de Cuti. Bem, na verdade, criamos vários e íamos postar dois, mas só recebemos o texto de uma dupla.
Nesse novo texto, Jussara aprende algo muito importante com a Lelê da historinha de Valéria Belém. Aí vai ele, espero que você goste.
Nesse novo texto, Jussara aprende algo muito importante com a Lelê da historinha de Valéria Belém. Aí vai ele, espero que você goste.
“No outro dia, já recuperada, Jussara foi
para a escola e no caminho encontrou Lelê, uma linda garotinha negra com os
cabelos encaracolados, esvoaçantes. E assim foi por uma semana. Sempre que
Jussara seguia para a escola encontrava a menina, só que o penteado dela às
vezes mudava. Um dia ela vinha com eles soltos ao vento, outro dia com belas
tranças, outro dia presos com presilhas bem coloridas.
Lelê, no passado, tinha curiosidade de
entender por que seus cabelos eram daquele jeito, cheio de enroladinhos, e nos
livros ela aprendeu que seus cachinhos eram herança de seus antepassados
africanos, que adoravam cuidar, pentear, fazer um montão de penteados. A
garotinha passou a amar o seu cabelo.
Era por isso que Jussara sempre via Lelê com
o cabelo diferente e assim ela foi mudando de opinião e parou de tentar mudar
seu cabelo. E até deixou de tentar esconder os lábios e mudar o nariz. Agora,
assim como Lelê, ela também já gosta do que vê.”
Parabéns, alunos e alunas do 9G, pela criação do blog. Não tenho dúvidas de que ele será um sucesso! Como diz Cristiane Sobral, espero que ele consiga parir novas cabeças". Estou orgulhosa de vocês! Um forte abraço!
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