Raul Córdula

Raul Córdula
Turma 9º ano G tarde

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Conceição Evaristo

Conceição Evarismo


Esta é uma outra importante escritora que conhecemos no site literafro. Conceição nasceu em uma família pobre, mas isso não a impediu de vencer na vida. Desde pequena gostava de ouvir as histórias que os mais velhos contavam para ela e acabou virando também uma contadora de história. Escreve contos, romances, poemas. e escritora de poemas. Hoje ela é doutora em Literatura e trabalha em uma importante universidade. 

Dos textos dela que estão no site, o que mais chamou a atenção foi "Meu Rosário". 



Meu Rosário


Conceição Evaristo

Meu rosário é feito de contas negras e mágicas.
Nas contas de meu rosário eu canto Mamãe Oxum
e falo padres-nossos, ave-marias.
Do meu rosário eu ouço os longínquos batuques do meu povo
e encontro na memória mal-adormecida
as rezas dos meses de maio de minha infância.
As coroações da Senhora, onde as meninas negras,
apesar do desejo de coroar a Rainha, tinham de se contentar
em ficar ao pé do altar lançando flores.
As contas do meu rosário fizeram calos nas minhas mãos,
pois são contas do trabalho na terra, nas fábricas,
nas casas, nas escolas, nas ruas, no mundo.
As contas do meu rosário são contas vivas.
(Alguém disse que um dia a vida é uma oração,
eu diria porém que há vidas-blasfemas.)
Nas contas de meu rosário
eu teço entumecidos sonhos de esperanças.
Nas contas do meu rosário eu vejo rostos escondidos
por visíveis e invisíveis grades e embalo a dor da luta perdida
nas contas do meu rosário.
Nas contas de meu rosário eu canto, eu grito, eu calo.
Do meu rosário eu sinto o borbulhar da fome no estômago,
no coração e nas cabeças vazias.
Quando debulho as contas de meu rosário,
eu falo de mim mesma em outro nome.
E sonho nas contas de meu rosário lugares, pessoas,
vidas que pouco a pouco descubro reais.
Vou e volto por entre as contas de meu rosário,
que são pedras marcando-me o corpo-caminho.
E neste andar de contas-pedras, o meu rosário se transmuda em tinta,
me guia o dedo, me insinua a poesia.
E depois de macerar conta por conto o meu rosário,
me acho aqui em mesma e descubro que ainda me chamo Maria.
(Cadernos Negros, vol.15, p. 23-24)


O poema é como uma denúncia das situações de exclusão do negro. O eu lírico se mostra ressentido porque devido ao preconceito da sociedade ela não teve melhores oportunidades e sim trabalho duro, que deixou calos em suas mãos. Mas mesmo com toda situação ruim de exclusão que o mundo do branco lhe impõe, hoje ela canta, ela grita e ainda sonha e encontra saída na poesia. Eu acho que Conceição fala dela mesma. 
(ALUNO DO 9º G)

sábado, 23 de maio de 2015

CUTI - Um conto do livro "Contos crespos"

BONECA

Nenhuma! Cansou de tanto andar. Perguntara muito. Ouvira respostas de todo tipo. Algumas vezes, reagira à escassa delicadeza de certos balconistas e mesmo às ironias finas. Em outros momentos fora levado à autocomiseração, depois de ouvir, por exemplo:
Sinto muito!...
Ou:
Queira nos desculpar... A fábrica não fornece, sabe...
Desanimar? Não. Não havia por que desistir de encontrar o presente de Natal para a filha. Com os seus 33 anos, estava em plena forma física. Além disso, era como se a pequena o conduzisse pelas ruas do centro comercial. Continuar a procura, mesmo pisoteando o cansaço, era uma missão.
Com entusiasmo, entrou na loja seguinte. Cheia! Aguardou pacientemente. Uma mocinha branca, de ar meigo e aspecto subnutrido, indagou:
O senhor já foi atendido?
Não. Por gentileza, eu estou procurando uma boneca...
Temos várias. Olha aqui a Barbie, a Xuxinha... – e a loirinha foi apanhando diversas bonecas. Colocava-as sobre o balcão, como se escolhesse para si. Olha que gracinha esta aqui de olhos azuis! É novidade. Chegou ontem e já vendeu quase tudo. Chora, tem chupeta, faz pipi... E essa outra aqui? Não é uma graça? – e levou ao colo a ruivinha de tom amarelado, bem clarinha. Mexeu-lhe os bracinhos e as perninhas e indagou: Não gostou de nenhuma?
É que estou procurando uma boneca negra...
...
Meia hora de espera.
Tem sim! – o dono da loja dirigiu-se à empregada. Procura melhor, na prateleira de baixo, lá em cima mesmo, perto da pia.
A moça subiu de novo a escada, depois de sorrir um submisso constrangimento.
Desceu mais uma vez, recebeu novas instruções e tornou a sorrir. Em seguida, do alto do mezanino, mostrou o rostinho gorducho, marrom-escuro, de uma boneca. Radiante, a balconista empunhava-a como um troféu. Assim desceu a escada. Mas, descuidando-se nos degraus, despencou-se. Todos se apavoraram. As colegas de trabalho foram em socorro.
Nenhuma fratura. Apenas um susto. O patrão exasperou-se, mas logo conseguiu se controlar, vermelho como pimenta-malagueta. A loja estava cheia. Foi atender o cliente:
Peço desculpa pela demora e pelo transtorno. Espero que o senhor não tenha se chateado. O importante é que encontramos o produto. Está em falta, sabe... Eles não entregam. Eu mesmo encomendei a semana passada. Mas o representante disse que a firma está exportando para a África. Está certo, mas aqui também tem freguês que procura, não é? O senhor é brasileiro?
Sim.
Então... – o homem engoliu a frase e preparou a nota.
...
Já na rua, o pai, entre tantos pensamentos, alguns desagradáveis, lembrou-se da descontração a que fazia jus, depois de suar expectativas naquela manhã de dezembro. Respirou fundo. Contemplou o lindo embrulho de motivações natalinas, em que se destacavam o Papai Noel, crianças louras e muita neve. Seguiu, passos lentos, em direção a uma lanchonete.
Vai uma loura gelada aí, chefe? – pronunciou o balconista ao vê-lo sentar-se junto do balcão.
Sorriu, confirmando com um gesto de polegar.
Ao primeiro gole de cerveja, sentiu-se profundamente aliviado e feliz.



O texto de Cuti faz uma crítica a uma realidade: a falta de bonecas negras no mercado. Mostra um pai negro que insiste em conseguir uma; ele não desiste de jeito nenhum de compra o presente para a filha. A insistência mostra o orgulho, a segurança de ser negro. Ele quer a boneca negra que tem tudo a ver com a filha e não uma boneca branca. Ele parece ser irônico, observando a enrolação dos vendedores. 
Depois ele olha para o embrulho e olha para a cena de Natal ao redor, onde tudo é branco, como se o mundo fosse apenas dos brancos, mas ele sabe que o mundo também é dele e da filha, também é do negros.


Vídeo - Cristiane Sobral 



Encontramos no Youtube um vídeo em que a escritora Cristiane Sobral interpreta alguns de seus poemas, entre eles está Pixaim elétrico, postado outro dia. 

Você não pode deixar de assistir!





quarta-feira, 20 de maio de 2015


Cristiane Sobra


Conhecemos Cristiane Sobral através do site LITERAFRO e ficamos encantados com poemas e contos dela. Postamos e comentamos aqui três poemas dela muito interessantes. Só em ler, você já conhece um pouco de como deve ser Cristiane.




CRISTIANE SOBRAL

Pixaim Elétrico



Naquele dia
Meu pixaim elétrico gritava alto
Provocava sem alisar ninguém.
Meu cabelo estava cheio de si

Naquele dia
Preparei a carapinha para enfrentar a monotonia da paisagem da estrada
Soltei os grampos e segui de cara pro vento, bem desaforada
Sem esconder volumes nem negar raízes.

Pura filosofia
Meu cabelo escuro, crespo, alto e grave
Quase um caso de polícia em meio à pasmaceira da cidade
Incomodou identidades e pariu novas cabeças

Abaixo a demagogia!
Soltei as amarras e recusei qualquer relaxante
Assumi as minhas raízes ainda que brincasse com alguns matizes
Confrontando o meu pixaim elétrico com as cores pálidas do dia.



Quando o eu lírico diz “Meu pixaim elétrico gritava alto” está  falando de uma forma figurativa, ou, seja, uma metáfora, está querendo dizer que seu cabelo estava muito volumoso e armado, e chamava atenção das pessoas,  o cabelo dela estava sendo ele mesmo. Esse poema nos inspira a amar aquilo que temos, ou, seja,  amar o cabelo que tem, você tem que ser você mesmo, não adianta imitar ninguém.



Na segunda estrofe o eu lírico diz que tinha orgulho de ser negra, ela não negava as raízes negras, o cabelo alto, cabelos armados. Tirar os grampos está relacionado a assumir as raízes negras,  ela tinha prazer de ter  raízes, de ter algo relacionado a cor negra. Ter as raízes negras é mais do que ter cabelos altos, cabelos cacheados e loucos, é pertencer a um povo de que ela tem orgulho. 



A terceira estrofe, quando ela se refere a “quase um caso de polícia em meio à pasmaceira da cidade”, na minha opinião, o eu lírico quer dizer que o cabelo dela crespo causava “espanto” nas pessoas, e ela  não estava nem aí porque estava sendo ela mesma.



Em seguida ela é ousada, ela recusa tudo aquilo que venha mudar o que ela é mesmo, e assumiu, ou seja, recusou qualquer preconceito  das pessoas contra ela e  saiu do armário que a impedia de ser ela mesma, e começou um novo começo na vida dela e armou o seus cachos e principalmente suas raízes originais que é a raça negra.   

(YASMIM)

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Literafro - Espaço rico de literatura negra





Olá! 

Esta semana conhecemos um site muito interessante, o literafroNesse site tem uma lista enorme de autores de literatura negra. São mais de 100 escritores. Lá tem muito texto sério, científico, tem biografias dos autores, mas também tem muitos trechos de romance, contos e poemas legais de ler. A gente não sabia que tinha tanto escritor de literatura negra. Tem autores que a gente nunca ouviu falar, mas que são muito importantes, como as escritoras Cristiane Sobral, Conceição Evaristo. 

Se você quiser visitar o site, é só clicar no endereço abaixo.



                                              http://150.164.100.248/literafro/

quarta-feira, 6 de maio de 2015


O primeiro encontro com a literatura negra



     No nosso primeiro encontro para estudo da Literatura Negra conhecemos duas personagens muito interessantes: Lelê e Jussara




    Lelê é personagem do conto "O cabelo de Lelê", de Valéria Belém, e Jussara faz parte do conto "Incidente na raiz", de Cuti, importante escritor negro. 


     Quer saber o que essas duas personagens têm em comum? É só ler a histórias! Ai vão elas!



Como o vídeo tem mais de 100 mega, não dá para postá-lo aqui, mas não tem problema, é só você clicar neste link.





Incidente na Raiz


Luís Silva (Cuti)

            
Jussara pensa que é branca. Nunca lhe disseram o contrário. Nem o cartório. No cabelo crespo deu um jeito. Produto químico e, fim! Ficou esvoaçante e submetido diariamente a uma drástica auditoria no couro cabeludo, para evitar que as raízes pusessem as manguinhas de fora. Qualquer indício, munia-se de pasta alisante, ferro e outros que tais e....
O nariz, já não havia nenhuma esperança de eficácia no método de prendê-lo com pregador de roupa durante hora por dia. A prática materna não dera certo em sua infância. Pelo contrário, tinha-lhe provocado algumas contusões de vasos sanguíneos. Agora, já moça, suas narinas voavam mais livremente ao impulso da respiração.
 Destestava tirar fotografias frontais.     
Preferia de perfil, uma forma paliativa, enquanto sonhava e fazia  economias  para  realizar   operação   plástica.   E os   lábios?
Na tentativa de esconder-lhes a carnosidade, adquirira um cacoete – já apontado por amigos e namorados (sempre brancos) – de mantê-los dentro da boca.
Sobre a pele, naturalmente bronzeada, muito creme e pó de clarear.
Lá um dia, veio alguém com a notícia de “alisamento permanente”. Era passar o produto nos cabelos uma só vez e pronto, livrava-se de ficar de olho nas raízes. Um gringo qualquer inventara tal fórmula. Cobrava caro, mas garantia o serviço. Segundo diziam, a substância alisava a nascente dos pelos. Jussara deixou-se influenciar. Fez um sacrifício na economias, protelou o sonho da plástica, e submeteu-se. Com as queimaduras químicas na cabeça, foi internada às pressas, depois de alguns espasmos e desmaios.
Na manhã seguinte, ao abrir com dificuldade os olhos, no leito do hospital, um enfermeiro crioulo perguntou-lhe:
– Tá melhor, nega?
Ela desmaiou de novo.


E aí, gostou?


Não ficamos satisfeitos com o que aconteceu com Jussara e acho que você também não deve ter ficado. 

Então que tal um outro final para a garota? 

Foi o que fizemos. Criamos um outro desfecho para o conto de Cuti. Bem, na verdade, criamos vários e íamos postar dois, mas só recebemos o texto de uma dupla. 

Nesse novo texto, Jussara aprende algo muito importante com a Lelê da historinha de Valéria Belém. Aí vai ele, espero que você goste. 



“No outro dia, já recuperada, Jussara foi para a escola e no caminho encontrou Lelê, uma linda garotinha negra com os cabelos encaracolados, esvoaçantes. E assim foi por uma semana. Sempre que Jussara seguia para a escola encontrava a menina, só que o penteado dela às vezes mudava. Um dia ela vinha com eles soltos ao vento, outro dia com belas tranças, outro dia presos com presilhas bem coloridas.
Lelê, no passado, tinha curiosidade de entender por que seus cabelos eram daquele jeito, cheio de enroladinhos, e nos livros ela aprendeu que seus cachinhos eram herança de seus antepassados africanos, que adoravam cuidar, pentear, fazer um montão de penteados. A garotinha passou a amar o seu cabelo.
Era por isso que Jussara sempre via Lelê com o cabelo diferente e assim ela foi mudando de opinião e parou de tentar mudar seu cabelo. E até deixou de tentar esconder os lábios e mudar o nariz. Agora, assim como Lelê, ela também já gosta do que vê.”