Raul Córdula

Raul Córdula
Turma 9º ano G tarde

quarta-feira, 20 de maio de 2015


Cristiane Sobra


Conhecemos Cristiane Sobral através do site LITERAFRO e ficamos encantados com poemas e contos dela. Postamos e comentamos aqui três poemas dela muito interessantes. Só em ler, você já conhece um pouco de como deve ser Cristiane.




CRISTIANE SOBRAL

Pixaim Elétrico



Naquele dia
Meu pixaim elétrico gritava alto
Provocava sem alisar ninguém.
Meu cabelo estava cheio de si

Naquele dia
Preparei a carapinha para enfrentar a monotonia da paisagem da estrada
Soltei os grampos e segui de cara pro vento, bem desaforada
Sem esconder volumes nem negar raízes.

Pura filosofia
Meu cabelo escuro, crespo, alto e grave
Quase um caso de polícia em meio à pasmaceira da cidade
Incomodou identidades e pariu novas cabeças

Abaixo a demagogia!
Soltei as amarras e recusei qualquer relaxante
Assumi as minhas raízes ainda que brincasse com alguns matizes
Confrontando o meu pixaim elétrico com as cores pálidas do dia.



Quando o eu lírico diz “Meu pixaim elétrico gritava alto” está  falando de uma forma figurativa, ou, seja, uma metáfora, está querendo dizer que seu cabelo estava muito volumoso e armado, e chamava atenção das pessoas,  o cabelo dela estava sendo ele mesmo. Esse poema nos inspira a amar aquilo que temos, ou, seja,  amar o cabelo que tem, você tem que ser você mesmo, não adianta imitar ninguém.



Na segunda estrofe o eu lírico diz que tinha orgulho de ser negra, ela não negava as raízes negras, o cabelo alto, cabelos armados. Tirar os grampos está relacionado a assumir as raízes negras,  ela tinha prazer de ter  raízes, de ter algo relacionado a cor negra. Ter as raízes negras é mais do que ter cabelos altos, cabelos cacheados e loucos, é pertencer a um povo de que ela tem orgulho. 



A terceira estrofe, quando ela se refere a “quase um caso de polícia em meio à pasmaceira da cidade”, na minha opinião, o eu lírico quer dizer que o cabelo dela crespo causava “espanto” nas pessoas, e ela  não estava nem aí porque estava sendo ela mesma.



Em seguida ela é ousada, ela recusa tudo aquilo que venha mudar o que ela é mesmo, e assumiu, ou seja, recusou qualquer preconceito  das pessoas contra ela e  saiu do armário que a impedia de ser ela mesma, e começou um novo começo na vida dela e armou o seus cachos e principalmente suas raízes originais que é a raça negra.   

(YASMIM)




Paradoxos

Cristiane Sobral

Acho um absurdo ter que viver aqui
Em uma dimensão onde ser negro e ser negra
É motivo de piada
Acho um absurdo ter que viver
Sendo ofendida pela cor da pele
Pelo cabelo crespo
Sendo enganada pela largura dos quadris

Outro dia entrei em uma loja
A vendedora queria saber
Se eu gostaria de uma pele branca pra sair
Acho um absurdo

Em outra ocasião entrei em uma igreja
O padre queria saber
Se eu estaria disposta a sofrer aqui
Pra ganhar uma alma branca ali
Acho um absurdo

Por outro lado
Os outros é que são brancos
Como posso ficar invisível com tanta cor?
O desprezo que sofro todos os dias...
A ironia
Acho absurdo!


Tão confusa que até tive um pesadelo
Eu queria uma roupa branca pra sair
Ficar bonita e parecida com o padrão
Mas vestia uma roupa preta tão aderente...
Não conseguia a roupa branca
Não conseguia...
Absurdo

Se eu tivesse uma pele branca
Talvez fosse amada
Quem sabe um marido
Quem sabe filhos
Mundo absurdo

Eu queria mesmo ser estilista da humanidade
Lançaria a coleção
Vista a minha pele
Vista a minha pele!

Quem sabe...
Talvez em um universo absurdo
Pudéssemos compartilhar algo concreto
E tudo começasse a fazer sentido.


Esse poema fala da grande realidade que  vivemos, o câncer desse mundo é o preconceito. Esse poema é tipo um desabafo, CHEGA DE PRECONCEITO. Entendi que ela falava que existem  pessoas querendo transformá-la de negra para branca. O poema faz uma crítica a mania de muitos, de querer que as pessoas negras sejam “brancas" a força.

Quando  se refere a ser “branca” está se referindo a coisas que muita gente tem feito,  negar seus cachos e começar a  dar alisamento nos cabelos, esconder a sua cor através de maquiagens ou até mesmo de plásticas, esquecer as suas origens. 
Onde quer que o eu lírico vá, tem sempre alguém querendo que ela siga um "padrão".
Entendi  também que ela queria viver em um lugar em que ela seja aceita como ela realmente é, sem ser discriminada. Queria que as pessoas "vestissem a sua pele", ou seja, se pusesse em seu lugar. Aí, "quem sabe.." teríamos um mundo onde pudéssemos viver como realmente somos, onde as identidade de cada um fosse respeitada. 
(YASMIM)






Retina Negra



Cristiane Sobral


Sou preta fujona

Recuso diariamente o espelho
Que tenta me massacrar por dentro
Que tenta me iludir com mentiras brancas
Que tenta me descolorir com os seus feixes de luz

Sou preta fujona

Preparada para enfrentar o sistema
Empino o black sem problema
Invado a cena

Sou preta fujona

Defendo um escurecimento necessário
Tiro qualquer racista do armário
Enfio o pé na porta
E entro.

O eu lírico, preta fujona, foge de quê? Foge das mentiras que brancas que querem fazer ela acreditar que suas características negras devem ser alteradas. Ela corajosa, de cabeça erguida enfrenta tudo e todos que querem impor suas vontades sobre ela. Ela não quer nem saber, ela enfia o pé e entra, se impõe. 

(ALUNO DO 9G)

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